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A BIBLIA É A PALAVRA DO DEUS VIVO JEOVÁ.

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DISSE JEOVÁ DEUS: "Meu espírito não terá tolerância com o homem indefinidamente, pois ele é apenas carne.Portanto, seus dias somarão 120 anos."Gênesis 6:1-22

domingo, 10 de março de 2013

Mais rígida, Lei Seca ainda enfrenta resistência de motoristas em SP

"Vou fazer o teste [do bafômetro], não vou dar trabalho. Tem banheiro aqui? Como o senhor se chama?", pergunta o motorista de uma caminhonete S10, visivelmente bêbado, a um policial militar. "Não adianta ficar me enrolando", rebate o PM, em uma blitz na Barra Funda, zona oeste, na madrugada do dia 24 de fevereiro. "Jamais vou atropelar você. Tomei um licor, estou ciente. Mas calma." Mais de dois meses após a nova Lei Seca entrar em vigor, motoristas ainda bebem e dirigem em São Paulo. Entre os dias 21 e 24 de fevereiro, a sãopaulo acompanhou nove blitze para conferir a quantas anda o cumprimento da lei. Em toda a capital, por noite, uma única equipe da Polícia Militar organiza de três a quatro bloqueios em rotas de bares e restaurantes, normalmente em bairros do centro ou próximos a esses. Iniciam-se por volta das 22h e encerram-se às 4h. Ao todo, no período acompanhado pela reportagem, foram multados por embriaguez 34 dos 507 motoristas que sopraram no bafômetro, uma taxa de 7%. "Agora, não tem volta: ou essa lei pega ou pega", afirma o deputado federal Edinho Araújo (PMDB-SP), autor do substitutivo que tornou a legislação mais rigorosa. Até dezembro, a lei federal, de 2008, não havia "pegado" na cidade. E, para que isso ocorra, é consenso que será necessário a combinação de fiscalização, campanhas, mudança de hábitos e mais transporte público. Tudo de forma contínua. Por enquanto, o que se ouve nas ruas são promessas, lamentos e tentativas de despistar. "É a comemoração do meu aniversário, não dá desconto?", questionava, em tom de brincadeira, um motorista cujo teste deu positivo. Ele foi parado na Vila Olímpia, zona oeste, às 22h09 do dia 21. Às 23h43, numa segunda blitz no mesmo bairro, outro motorista admitia ter bebido a caminho de uma festa. "Foi um vacilo, ingeri uma dose de uísque", lamentava-se. O motorista ligou para um amigo e pediu que o buscasse no local --a lei permite a entrega do carro só para outro condutor sóbrio. O amigo apareceu e assumiu o volante. Saíram. Porém, no quarteirão seguinte, a poucos metros da polícia, trocaram de lugar. O motorista multado voltou a dirigir, e o amigo seguiu em outro veículo. Na avenida Engenheiro Luiz Carlos Berrini, na zona oeste, à 1h14, a manobra de outro motorista não funcionou. Ao ver a blitz, ele engatou a ré e tentou escapar. Foi perseguido e escoltado até o ponto da operação. "Errei o caminho", anunciou ao sair do carro. Além de ter consumido três latas de cerveja, sua habilitação estava vencida. "Desculpe aí, gente, eu estava numa festinha ali." No dia seguinte, a avenida Zaki Narchi, no Carandiru, zona norte, recebeu a primeira blitz da noite. Às 23h37, um motorista ignorou a ordem para parar. Acabou cercado. "Juro por Deus que não vi [a ordem]", dizia, ao tentar se desculpar. Para os policiais, ele não havia freado de tão alcoolizado que estava. O bafômetro indicou 0.56 mg/L, o suficiente para ser preso. Mais tarde, na avenida Engenheiro Caetano Álvares, também na zona norte, outro motorista teve como destino a delegacia, agora por se recusar a soprar no bafômetro. "Acabei de sair da balada. Não vou negar que bebi. Não sou mentiroso", justificava-se, em voz alta, para o amigo que o acompanhava. "O bagulho [álcool] demora oito horas para sair do sangue. Se bebi às 18h, vou ser pego", estimava. Depois de discutir com o policial, ele aceitou entrar no veículo da PM e seguiu para o DP. Restou ao amigo ir para casa caminhando --a polícia não se responsabiliza pelo transporte dos passageiros. No sábado, na Vila Buarque, no centro, uma motorista recorreu a um mito sobre o bafômetro para questionar os policiais. "Falei que tava tomando xarope, moço. Isso pega até licor de bombom." Antes, afirmara que era asmática e, portanto, faltaria fôlego para soprar. Diante da insistência dos policiais, fez o teste. Resultado? Positivo. Ilustrações Raul Aguiar COMPORTAMENTO: O que se vê nas blitze decorre, em parte, da resistência de motoristas a abandonar o hábito de beber e, em seguida, dirigir. "Vou à casa do meu sogro, tomo uma cerveja ou uma taça de vinho e retorno dirigindo", admite o farmacêutico Abud Gaspar, 30. "Parece que não caiu a ficha." A mulher dele, Renata Gaspar, 33, atribui à lei o "impasse" provocado no jantar em que comemoravam dez meses de casamento, no mês passado. "Não podia brindar com vinho", queixa-se. O casal passou a reunir os amigos em casa, na Aclimação, a fim de evitar cair numa blitz. Lilian Casertani, 30, e o marido, Fabrício, 36, adotaram um rodízio. Se optam por beber longe de Santana, na zona norte, onde moram, um dos dois se abstém do álcool. "Mas a gente arrisca de vez em quando", revela ele. Quando não estão dispostos a correr riscos, escolhem um bar perto de casa. A estratégia assemelha-se à do casal Abelardo Silva, 52, e Olga Alves, 55. Na noite do último dia 1º, voltaram da Bela Vista, no centro, para um bar perto da casa deles, no Tatuapé, zona leste. "Lá, era local de uma possível blitz. Aqui, a possibilidade é muito pequena", disse Abelardo. "Não é esse rigor que vai resolver. Quem causa acidente é quem bebeu bastante." As pessoas reagem de forma diferente ao álcool. Não se pode, entretanto, "fazer uma lei para cada pessoa", diz Alice Chasin, representante no país da Associação Internacional de Toxicologistas Forenses. "Há pessoas que metabolizam o álcool mais lentamente que outras. Por isso, o indicado é que [a tolerância] seja zero." No Brasil, é proibido beber e dirigir desde 1997. Desde então, a lei sofre alterações. Hoje, aparece entre as mais rigorosas do mundo. A última mudança, continua Alice, pode retomar o efeito gerado pela legislação anterior, de 2008. "No começo, as dosagens de álcool de pessoas envolvidas em acidentes diminuiu. Depois, voltou a subir." A lei de 2008 estabelecia o limite de até 0.1 mg/L de álcool por litro de ar alveolar, permitindo a ingestão de alguma quantidade de bebida --não é possível estimar um número mínimo de doses porque cada organismo reage de um jeito. Definia, ainda, como provas para a comprovação do crime de embriaguez, acima de 0.34 mg/L, o bafômetro e o exame de sangue. Com isso, na prática, o motorista que bebera a mais se recusava a se submeter aos testes. Assim, arcava com a multa e recorria à Justiça para escapar da prisão. O peso de outras provas, como o relato policial, dependia de juiz para juiz. "Cheguei a ver decisões que desprezavam o bafômetro", afirma o promotor Tomás Ramadan, do Ministério Público paulista. Motoristas, por sua vez, criaram estratégias para driblar a fiscalização. "Eu só pegava o carro para ir embora depois das 5h", revela o auxiliar Fernando Henrique Domingues, 25. "Saía de alguma festa e olhava na internet para ver se tinha blitz", conta a executiva de contas Andrea Accyoli, 36. Há contas no Twitter e aplicativo para smartphone que centralizam, em tempo real, alertas de usuários sobre a localização de blitze. TOLERÂNCIA ZERO Sancionada em dezembro, a nova lei "dispõe de todos os instrumentos para pôr a casa em ordem", segundo o desembargador Damião Cogan, presidente da 5ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça paulista. "Ficou claro que qualquer quantidade [de álcool] gera infração administrativa, o que acho bastante razoável." No fim do ano, o juiz Fábio Munhoz Soares, da 17ª Vara Criminal, notou um aumento no número de prisões por embriaguez ao volante, provável resultado das blitze. "A lei só surtirá eficácia se as operações se tornarem uma constante. Tem de haver sempre, senão cairá naquela mesmice." A "mesmice" era a sensação de que as blitze haviam sumido. "A fiscalização [em São Paulo] não era um programa", diz o deputado federal Hugo Leal (PSC-RJ), autor da lei de 2008. Ele cita como modelo a fiscalização adotada no Rio de Janeiro, onde foi criado em 2009 um programa com campanhas educativas e fiscalização. Hoje, são 250 agentes, divididos em 14 equipes. Em São Paulo, as operações são executadas por PMs toda noite --a corporação não informou quantos agentes fazem blitze. Mas, conforme surgem casos que devem ir para a delegacia, PMs (dois por motorista) saem do local. Como não há reposição, o poder de fiscalização é reduzido. Procurada, a PM não informou se considera o total de blitze suficiente e os resultados desde dezembro. A gestão Geraldo Alckmin (PSDB) promete iniciar ações integradas, já testadas. Nelas, PMs atuam com o Detran e as polícias Civil e Técnico-Científica. "Devemos fazer no meio do mês, num fim de semana, na capital, e no restante do Estado até o fim deste mês", diz Daniel Annenberg, diretor-presidente do Detran paulista. Há cobrança por fiscalização mais efetiva e por ações educativas e opções de transporte público. "Um tema como esse envolve campanhas publicitárias, pedagogia e palestras em escolas", defende Francisco Fonseca, professor de ciência política da FGV (Fundação Getulio Vargas). "Que as autoridades cumpram sua obrigação de baratear o táxi, fazer o metrô funcionar a noite toda e pôr segurança na rua", afirma Percival Maricato, diretor jurídico da Abrasel (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes). Sem citar valores, ele afirma que o setor teve uma "terrível queda de faturamento" neste ano. A Secretaria Municipal de Transportes diz que está estudando a melhor forma de operar o "Táxi Amigão", de 2009, que reduzia em 30% a tarifa de táxis no período das 20h às 6h. Sobre a circulação de mais ônibus na madrugada, a pasta diz que a população pode sugerir alterações --hoje, 98 linhas operam no período, o equivalente a 7% das 1.350. Que a lei é rigorosa é fato, mas, para funcionar, ela precisa de ajuda.